Empreendedorismo com Música
- Alessandra Gaeta
- 3 de ago. de 2020
- 6 min de leitura
Atualizado: 21 de set. de 2020

Fernando Anitelli, 2019. Foto: Divulgação.
Estava demorando, né? Eu ia, cedo ou tarde, fazer um texto com esta temática.
Se você não me conhece, explico: sou de uma família de genética forte, não só no fenótipo (há quem diga que pareço gêmea do meu irmão mais novo - o que considero um baita elogio, porque ele é lindo!), mas também no lado musical.

Meu irmão e eu. Parece?
Acho que desde meu bisavô, do lado paterno, TODOS têm um lado musical forte. Meu avô foi um músico bem famoso - pergunte às avós vivas se elas já ouviram falar do Uccio Gaeta. TV Tupi, Nino o Italianinho, etc. Dá um Google aí. Daí, meus tios, excelentes músicos, e meu pai que, apesar de tímido sempre tocou violão e guitarra e é o responsável de eu ter esta foto aqui:

Sim, esta sou eu em 2004, com 14 anos, tocando guitarra no Café Piu Piu, em São Paulo. Ganhei esta guitarrinha de presente do meu pai.
Então, também para quem sabe, amo e sou fascinada por marketing, gestão e empreendedorismo. Trabalho na área há quase uma década, e sou fascinada por música.
"Neste espírito", quero compartilhar esta bela história da visionária banda brasileira O Teatro Mágico, narrada pelo gênio Fernando Anitelli, fundador da banda, do ponto de vista de inovação e quebra de paradigmas.
Me referencio ao belo vídeo de uma palestra no TED Talks, falando de música como ferramenta de conexão, contando sobre seu background na igreja, ficando familiar com os instrumentos, sonoridades. Sonhava em entrar em uma grande gravadora e, ao conseguir, foi pressionado a fazer as músicas em um tom mais comercial - "forró e ska". Ao tentar lutar contra esta grande força, acabaram sendo "engavetados". Para quem não sabe, engavetar uma banda é praticamente amordaçar a banda por um período determinado por contrato. A obra, ao assinar o contrato, é então de propriedade da gravadora, e não do artista. Isso significa que o artista não pode reproduzir sua obra fora do controle da gravadora. Ou seja, ao "engavetar" o artista, o artista não pode reproduzir sua obra. É como ele estivesse aprisionado? Praticamente.
O sonho dourado acabou servindo de mordaça para esta banda, para este artista.
No entanto, ele não parou. A primeira grande decepção profissional, ao atingir o grande sonho, não o parou. Esta é a primeira mensagem acerca do empreendedorismo: não pare. Provavelmente, vai dar errado no começo. Os empreendedores de plantão já devem estar pensando que "ele precisou pivotar". Foi mais ou menos isso.
O pai de Fernando, Eudácio, visionário e na tentativa de ajudar o filho a ter esperança de seguir seu sonho, jogou as músicas do Fernando na internet. As músicas engavetadas - sim.
A música, ao ser colocada livre, conseguiu chegar até ao público. A música livre serviu muito bem como um conteúdo importante para trabalhar o topo do funil de público da banda. Trabalhar o topo de funil é trabalhar o awareness da sua marca. É trabalhar para que você tenha conteúdo que chegue, de forma gratuita, e entregando valor, para o seu grande público.
Esta estratégia é o que hoje, muitos "marqueteiros" do mundo digital chamam de inbound. Nada mais é que entregar valor e conteúdo, de forma gratuita, para seu público. Entregar o ouro, com personalidade, dando uma excelente experiência, ainda que em tom de amostra grátis, e entregando um valor único.
Fast Forward (FF, >>), para quem não conhece OTM (O Teatro Mágico), é muito mais que uma banda. O show é cheio de experiência, de coreografia, poesia, circo, música e dança. "É tudo uma coisa só". A música é uma fração da experiência inteira. O show, na verdade, que entrega uma experiência completa desta banda.
Naquele ponto, ninguém ainda pagaria para ir a um show do Teatro Mágico, certo? Ninguém conhecia a banda. Entregar valor para seu grande público é uma excelente forma de conquistar clientes prontos para pagar por uma experiência mais próxima (no caso da banda, um show).

Trabalhar bem o topo do seu funil significa que você está otimizando as conversões. Você chega até seu público de maneira gratuita, ou com pouco custo, e então o seu público começa a degustar o que seria uma experiência mais próxima com você. Muitas vezes, você consegue despertar admiração pela qualidade do conteúdo produzido. Tendo um produto de entrada gratuito, você consegue apresentar, de uma forma leve e natural, o que seria o seu próximo produto mais caro, pago que, no caso d'OTM, seria o show.
A arte encontra o público (gratuito) , e o público encontra a arte (produto pago).
É um encontro.
O show d'OTM é um acontecimento, um espetáculo. Tem teatro, poesia, circo, música. Assim como na música tem ritmo, tem poesia. Assim como no teatro, que tem música, tem poesia, tem ritmo. Entende? É tudo uma coisa só. E a música é só um pedacinho, uma amostra do que esta banda (será que pode chamar de banda? Nesta altura, eu me questiono.) tem para mostrar.
O que ele mostra que é muito importante, é saber o porque está se fazendo o que se faz.
Arrisco dizer que o WHY d'OTM é "porque é tudo uma coisa só". Espero que o um dia o Fernando Anitelli confirme isso para mim!
Nesta hora, o Simon Sinek arrepia e sorri! Se você não conhece este vídeo e esta obra, o diagrama abaixo vai fazer pouco sentido para você. Veja o vídeo referenciado acima e volte pro texto, combinado? Ainda falta coisa!

Golden Circle - Simon Sinek.
Voltando ao caso, com a música chegando ao público, foi-se criando uma audiência engajada e qualificada. Ele criou uma tribo. Conhecer O Teatro Mágico era a prova de que você pertencia a este grupo. Que você conseguiu chegar até eles. Eles até ficaram bem famosos com uma música que era hit de formatura nos anos 10 da nossa década, mas via de regra não era uma banda famosa, das grandes rádios e lojas de CD.
Você já ouviu falar do Seth Godin? Se não, recomendo que veja este vídeo aqui. Ele tem uma obra excelente que se chama Tribos, um livrinho que é cheio de ensinamentos e é extremamente relevante em qualquer tempo. Ele fala de um fenômeno de liderar e conectar pessoas por meio de ideias e ideais. A internet, hoje, é um meio excelente de formar tribos. Você consegue encontrar algo que valha a pena ser mudado e juntar pessoas que se conectem com este interesse.
O Teatro Mágico criou uma tribo. Criou uma legião de fãs que acreditavam nesta forma de arte, se conectavam com suas poesias, suas letras e sua expressão.
Não é sobre empurrar um produto que o público não precisa, goela abaixo, via um monte de anúncios. É sobre dar para o público a solução que ele precisa e alguém que o represente. Sobre contestar o modelo vigente que ninguém gosta.
Para comprar um CD d'OTM, o fã, depois do show, ia na barraquinha e comprava um exemplar. Comprava camisetas, e todos os outros símbolos que expressavam para o mundo que ele pertencia a este grupo e representava aquela banda.
Sem gravadora, sem intermediários, sem "atravessadores", como diria o Fernando Anitelli.
O fã, depois de de ouvir a música, podia compartilhar livremente na internet e, assim, a tribo crescia.
Enfim, o Fernando Anitelli antecipou um movimento. Depois disso tudo, veio a nuvem. E agora, tudo está na nuvem. E como o artista consegue ganhar dinheiro? Reprodução de música não e mais crime, e sim uma parceria para aumentar sua tribo. O público se encarrega disso e o artista dá uma experiência autêntica para o público.
Artista, empresário, empreendedor: "desça do palco, desça do salto". Conheça seu público e o que o público precisa, o que ele quer de você. O Fernando Anitelli já adianta que, muitas vezes, ele faz 10 músicas em uma semana para ver se uma presta, e às vezes, nem uma presta. Tenha volume de trabalho, teste, exponha ao seu público, e ouça o que ele precisa.
Bom, falamos de música, de inovação, de Golden Circle, de Tribos, de ouvir nossos clientes. Entende que é tudo uma coisa só?
O vídeo da palestra do Fernando, no TED Talks, na íntegra, está aqui. Deleite-se.
Se você gostou deste artigo, veja também o Empreendedorismo com Pipoca (contando o caso de empreendedorismo de um pipoqueiro visionário e sábio), e o Empreendedorismo com Brownie (que fala da mentalidade empreendedora).
Beijos!
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